Matéria do jornal Valor Econômico de hoje.
Cidade dos genéricos, Anápolis avança
Mônica Scaramuzzo
De Anápolis e Goiânia
Anápolis já não é mais a mesma. A cidade com um quê interiorano, a cerca de 50 quilômetros da capital de Goiás, começou a mudar seu dia a dia nos últimos meses. A transformação é perceptível nas cores renovadas das casas, na construção de novos condomínios e edifícios que pipocam aqui e ali, impulsionados pelo aumento de renda com a chegada de novas indústrias à região. E todas essas mudanças, que não são poucas, vêm acompanhadas de um movimento migratório de trabalhadores, sobretudo do Sul e Sudeste do país, para ocupar cargos estratégicos em empresas farmacêuticas que se expandem ou chegam à cidade.
Os laboratórios, que começaram a ser instalados a partir dos anos 90 na cidade, fazem de Anápolis uma nova realidade. Somente nos últimos 12 meses, até dezembro, multinacionais e companhias brasileiras injetaram cerca de R$ 2 bilhões em Anápolis, atraídas pela oportunidade de negócios no segmento de genéricos. As companhias são seduzidas por um polpudo programa de incentivos fiscais e localização geográfica estratégica, cortada por duas rodovias federais, o que também atraiu grandes distribuidoras de medicamentos (ver abaixo).
Anápolis é o terceiro polo produtor farmacêutico do país e já caminha para a segunda posição - nos próximos meses a cidade vai desbancar o Rio de Janeiro - e está na disputa com São Paulo para ser o maior em genéricos do Brasil.
Em 2009, a cidade atraiu os holofotes - que permanecem desde então - com a compra da Neo Químicapela Hypermarcas(ver matéria ao lado). A empresa estava sendo disputada pela americana Pfizer, que perdeu o páreo, porém, quase um ano depois, abocanhou 40% do laboratório Teuto, instalado no mesmo complexo industrial da cidade, o Daia (Distrito Agroindustrial de Anápolis). Empresas como as suíças Novartise Roche também chegam à cidade para investir em distribuição de remédios, podendo fazer investimentos em laboratórios no futuro, segundo Luiz Medeiros, secretário de Indústria e Comércio do Estado. O Achécomprou 50% da Melcon, laboratório de médio porte também situado no Daia.
Além das gigantes suíças, grandes companhias, como a EMS, a maior nacional do país, analisam construir uma fábrica na região, segundo fontes do setor. A Novartis não confirma investimento na cidade.
O movimento de consolidação de ativos no setor tem mudado o perfil da cidade, que abriga novas faculdades e universidades para formar mão de obra local qualificada para essas indústrias. "Cheguei até Anápolis atraída por um anúncio da internet", diz a gaúcha Fernanda Figueiredo, 30 anos, formada em 2003 em farmácia industrial. Antes de ingressar na Teuto, onde ocupa o cargo de supervisora de produtos injetáveis, Fernanda passou pelo laboratório paranaense Pratti Donaduzzi. A gaúcha, desde 2005 na cidade, já está estabelecida. Conheceu seu marido na Neo Química e não pretende voltar para o Rio Grande do Sul.
Trajetória parecida tem o paranaense Milton Cavallari de Lima, 29 anos. Supervisor de produção de medicamentos sólidos na Teuto desde 2007, chegou a Anápolis quatro anos antes para fazer estágio na Greenpharma. Depois seguiu para a Cifarma. "Cortei o cordão umbilical com minha cidade e me estabeleci aqui", diz.
O polo farmacêutico de Anápolis começou a ganhar corpo com a expansão do Daia, fundado em 1976. São cerca de 100 empresas, das quais um quinto do segmento farmoquímico, além de companhias dos setores de alimentos, automobilístico, adubos, materiais de construção e um porto seco.
Com o frenético movimento de consolidação do setor farmacêutico em todo país nos últimos meses, muitas são as apostas de que as aquisições deverão reduzir o ritmo. No entanto, pequenas e médias empresas de Anápolis, descartadas inicialmente por grandes grupos, são consideradas hoje alvos potenciais de interessados em migrar para aquela região.
A FBM, farmacêutica de médio porte especializada em saneantes hospitalares, saiu do zero em 2000 e hoje fatura R$ 100 milhões. Junto com a Hospfar, empresa de Goiânia, especializada em produtos hospitalares controlada pelo empresário Marcelo Perillo, soma receita de R$ 600 milhões. O grupo é alvo de assédio, mas Perillo garante que ainda não está à venda. "Não descartamos parcerias com multinacionais para desenvolvimento de medicamentos", diz. A FBM concluirá em março um investimento de R$ 70 milhões e fechou parceira com uma empresa austríaca para produzir hormônios.
Embora os laboratórios instalados no Daia sejam hoje alvo de assédio, alguns ainda travam uma luta para se reerguer. É o caso do Kinder, especializado em genéricos, que foi desativado há dois anos por falta de capital. Seu proprietário, Marçal Soares, presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas do Estado de Goiás, está em busca de investidores para reativar a fábrica. Com o ritmo acelerado de aquisições que se observa na região, a Kinder poderá abrir suas portas até mesmo com um novo dono.
Bela materia. O que Anapolis recisa para atrair consolidar e avançar em suas potencialidades, é de uma politica de investimentos estruturais direcionados para que faça prevalecer a força do seguimento natural, com o municipio buscando a modernização através de um poder publico atento, dando uma contrapartida a altura do que deseja os anapolinos e porque não todos os goianos.
ResponderExcluirParabéns pela materia,Milton Cavallari de Lima, e mesmo um grande farmacêutico e um inteligentissimo supervisor.nete
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