domingo, 27 de março de 2011

Deu no Correio

Pare, olhe, escute: o trem pode passar
Correio Braziliense
Reportagem: Conceição Freitas

Os trilhos que ligam o Plano Piloto a Luziânia têm muita história. Por eles passam diversas Brasílias, como a das invasões, a dos condomínios luxuosos, a dos antigos acampamentos e a dos prédios de mais de 20 andares

Há uma possibilidade, ainda remota, de Brasília, Valparaíso e Luziânia voltarem a ouvir o apito do trem. E com ele, desafogar o trânsito e melhorar a vida de 300 mil brasilienses e goianos que utilizam os ônibus e o metrô de Brasília. É o trem de ferro, um dos mais antigos meios de transporte que a civilização inventou. Ele chegou ao Distrito Federal em 1968, foi usado para viagens interestaduais e transporte de carga e até hoje continua a carregar derivados de petróleo, grãos, areia e coque, um tipo de carvão mineral. A ideia não passa de esboço e ressurge de tempos em tempos. Para ser levada adiante, depende da boa vontade não apenas do governo do DF, mas do de Goiás e do Ministério dos Transportes. O assunto vem sendo tratado nos gabinetes, já mereceu uma viagem do governador Agnelo Queiroz e um sobrevoo do secretário nacional de Desenvolvimento do Centro-Oeste do Ministério da Integração Nacional, Marcelo Dourado.
O trecho a ser utilizado, caso se concretize o projeto, é de mais de 100km, pode beneficiar 300 mil pessoas e vai da Rodoferroviária a Luziânia (GO). Os trilhos cortam Brasília na direção sul, rompem a fronteira e alcançam os municípios de Goiás que fazem parte da área metropolitana da capital do país. O Correio percorreu trechos da linha aonde era possível chegar de carro ou a pé e encontrou uma cidade desigual, a exemplo de toda ela. O percurso sobre trilhos corta setores de serviços e de indústrias, cidades-satélites, rodovias, viadutos, condomínios de classe A e B, chácaras; cruza invasões, ferros-velhos, silos, depósito de derivados de petróleo. Passa perto de grandes edifícios em construção no Guará e ao lado da Cidade do Automóvel.
Quando em território goiano, os trens cortam áreas urbanas de grande densidade: Valparaíso, Cidade Jardim, Parque Estrela Dalva, Pedregal, Jardim Planalto e, finalmente, Jardim Ingá. A linha de trem passa ao lado do shopping de Valparaíso, atravessa a BR-040 (Brasília-Rio de Janeiro) e lá adiante volta a fazer a travessia, sempre por viadutos subterrâneos, passando ao lado da Cidade Ocidental, e termina seu percurso urbano na modesta (e abandonada) estação do Jardim Ingá. De lá, segue em frente até Pires do Rio, mas são os 120 primeiros quilômetros que interessam ao brasiliense e ao morador da área metropolitana da capital do país. Da antiga Rodoferroviária ao Jardim Ingá são 60km de ferrovia e de lá até a Estação de Calambau, na divisa de Luziânia com Cristalina, são mais 60km.
Desde a privatização da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), no governo Fernando Henrique Cardoso, o trecho que chega a Brasília foi transferido para a Ferrovia Centro-Atlântica por 30 anos, prorrogáveis por mais 30. Antes, porém, a malha ferroviária brasileira já vinha em contínuo desgaste. A linha Bandeirante, que fazia transporte de passageiros de Brasília a Campinas (SP), foi melancolicamente desativada em 1992.

Grafite e ferro-velho
Passados quase 20 anos, o trecho Brasília-Luziânia, que poderia ser utilizado para o transporte urbano na área metropolitana da cidade, funciona sobre os escombros do que um dia foi uma linha férrea pontilhada de estações de passageiros. O ponto de partida, a antiga Rodoferroviária, é um campo aberto de destroços. Dezenas de vagões adormecem e estão sendo paulatinamente engolidos pelo mato, habitados pelos pássaros e visitados pelos grafiteiros. São os artistas de rua que estão transformando o cemitério de trens em uma galeria de cultura hip-hop. Num dos vagões, a inscrição “Férias na praia de metal” anuncia que os vagões viraram domínio do grafite. Pincéis sujos e sprays vazios largados nos trilhos são a prova de que o grafite encontrou área livre para imprimir sua transgressora arte urbana.
Perto dos vagões grafitados existe um enorme galpão, dentro do qual passam dois trilhos, completamente desossado. Não há mais esquadrias nem piso, nem teto, nem louça de banheiro, nem de cozinha, nem instalação elétrica. Em certos trechos, houve retirada de dormentes. Os pregos gigantes, de mais de 30cm de comprimento, saltam dos ferros, anunciando que ali não há mais nada seguro.
Da Rodoferroviária, a linha de trem segue acompanhando, em paralelo, a Estrada-Parque Indústria e Abastecimento (Epia), aproxima-se da Cidade do Automóvel, passa por baixo da Via Estrutural, corta o Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) e continua pelas proximidades do Setor de Cargas e Armazenamento. É nesse trecho a linha de trem margeia uma área de ferro-velho e de invasões de população de baixa renda. Os moradores dos barracos fincados rente aos trilhos temem a retirada de seus lares, caso o transporte de passageiros seja mesmo reativado.
Enquanto o trem de passageiros não vem — se é que vem —, Leidiane Ferreira da Silva, 23 anos, casada, mãe de três filhos, continua a usufruir da comodidade de morar próximo à Via Estrutural e à Epia. No dia em que o Correio esteve na casa de Leidiane, um curimatã de bom tamanho estava pendurado no varal. Bem próximo ao centro moderno de Brasília, bem à margem de uma metrópole de 2,5 milhões de habitantes, a piauiense reproduzia um velha receita nordestina: retalhou o peixe cuidadosamente e pôs a peça ao sol para, dois dias depois, fritá-la em óleo bem quente. “Meu marido não sabe comer peixe. Faço isso pra ele não sentir as espinhas.” Tanto ela quanto o companheiro, Delton Soares Martins, 34, gostaram da notícia de que o trem de passageiros pode ser reativado. “Seria ótimo. Aqui é muito difícil pegar ônibus, e o preço da passagem é um absurdo”, diz .

Lembranças
Depois de passar pelos setores de Indústria e de Cargas, a linha de trem corta o Setor de Chácaras Lucio Costa e vai desembocar no Guará. É onde ela fica com jeito bem urbano. Fere o asfalto, encosta em escolas, casas, prédios. E serve de desvio para quem quer encurtar caminho, como Alcione Pinto da Silva, maranhense de 29 anos que utiliza pequeno trecho da estrada de ferro para chegar à casa de uma amiga. “Se eu for dar a volta, fica muito longe. Mas aqui é um pouco perigoso”, diz, apontando para o matagal que acompanha os trilhos. Informada da ideia de que o trem poderá servir para o transporte público, el,a de imediato, perguntou: “É pra ontem?”.
Do Guará, os trilhos apontam para o Núcleo Bandeirante e chegam, finalmente, à primeira estação desde a Rodoferroviária. É a Bernardo Sayão, solenemente inaugurada em 1968, com o Bandeirante, trem especial da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro que passou a fazer a linha Campinas- Brasília. A chegada do trem à Estação Bernardo Sayão, em 23 de abril de 1968, foi um acontecimento que atraiu centenas de candangos às margens dos trilhos.
A construção de tijolo aparente não guarda nenhuma marca desses áureos tempos. Há pelo menos quatro famílias morando na velha estação. Temendo a retirada, os moradores não gostam de falar com jornalistas. O ferroviário Anasário José da Silva, 60 anos, mora há mais de três décadas do outro lado da estação. Ele diz que os moradores do prédio abandonado fazem pela estação o que o Estado não fez. “Pode ver as outras aí pra frente. Estão todas destruídas.”
Nos anos 1970, a Estação Bernardo Sayão estava rodeada de invasões. A Vila Tenório, a Vila Iapi, o Morro do Urubu compunham um mar de moradias improvisadas. “Tudo isso aqui era cheio de barracos de tábua”, ele diz, fazendo um semicírculo com a mão. Com a remoção dos invasores para Ceilândia, a região ficou esquecida até ser redescoberta pelos brasilienses de razoável poder aquisitivo, e o que se vê por ali são grandes residências em condomínios fechados e vilas de casas de funcionários aposentados ou ex-funcionários da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA). É numa dessas vilas que mora Anasário, homem de voz e gestos pausados, que conserva uma paixão pacata e nostálgica pelas ferrovias, sobre as quais coleciona informações históricas, técnicas e tecnológicas. Ele garante que a bitola de um metro, como a que passa na Estação Núcleo Bandeirante, ainda é adequada para vagões de passageiros. Diz que também é possível equipar a linha com mais um trilho e detalha as distâncias entre as estações até o fim do ramal, em Pires do Rio (GO).

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mudança polêmica

De vermelho, preto e verde para azul e amarelo. A iniciativa de trocar as cores nas viaturas da Polícia Militar de Goiás provoca polêmica antes mesmo dos carros saírem às ruas. A foto postada em redes sociais pelo estudante de direito Robson Niedson Martins (@niedson) renderam mais de cem comentários (Facebook + Twitter).
As críticas são de que as novas cores são as mesmas do PSDB, partido do governador Marconi Perillo. Em seu governo anterior, o tucano também provocou polêmica por, ao subsidiar a passagem do Eixo Anhanguera, em Goiânia, estabelecer preço de 45 (número do PSDB) centavos. Além disso, colocou em circulação novos ônibus, com faixas nas cores azul e amarela e um M (de Metrobus) em destaque. Há uma semana, o governador anunciou aumento de 45% nos salários dos diretores de escolas, o que virou motivo para brincadeira do próprio secretário de Educação, Thiago Peixoto.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública e Justiça (SSPJ) confirmou que a PM decidiu alterar a caracterização dos novos veículos, mas não soube informar o motivo e a quantidade de novas viaturas. Também não foi esclarecido se os veículos da PM já existentes também terão a troca. Veja como são atualmente e como serão as novas viaturas.
Atualizado às 15h20:
O secretário de Segurança Pública, João Furtado, entrou em contato para informar que todas as viaturas da PM - mil veículos - terão as novas cores, que, segundo ele, representam a bandeira de Goiás . Além disso, ele afirma que o azul é "retorno às origens da PM". A nova caracterização foi aprovada em reunião com o comando da PM, da qual João Furtado participou. "Temos de evocar as cores do nosso Estado. Tem de haver referencial que vincule a Goiás", afirma.
O secretário disse ainda que está sendo estudada nova farda para a PM, também na cor azul, com a bandeira de Goiás na manga. "Essa cor atual dá impressão de pouco ativa. Temos de ter uma farda mais cosmopolita, que transmita confiança, modernidade", diz.
A renovação da frota da PM é anual e a empresa que faz a locação para o Estado tem a responsabilidade de pagar pela caracterização, sem custos adicionais, segundo o secretário.
 
 

domingo, 6 de março de 2011

As orações de Marconi

O governador Marconi Perillo (PSDB) dedicou os dois primeiros dias do carnaval a participação em oito eventos religiosos - católicos, espírita e evangélicos - no Estado. Amanhã, dia do aniversário de 48 anos, vai descansar, segundo a assessoria, que não confirmou se ele viajará. 
Nos eventos católicos ontem e hoje, ele se encontrou com o deputado estadual Francisco Vale Júnior, que faz parte da ala moderada do PMDB em relação ao governo. Recebeu inclusive benção do peemedebista, ex-coordenador estadual do movimento carismático, no 19º Rebanhão de Carnaval da Renovação Carismática. Em release, a assessoria do governador destacou  a "calorosa recepção" por parte de Francisco. 
O governador disse em entrevista que já é seu costume há 25 anos visitar eventos das igrejas durante o feriado. Hoje, no Carnaval de Jesus, na Igreja Sagrada Família, em Goiânia, ele falou das dificuldades dos primeiros dois meses de governo,  enfatizando que é um homem de fé e pedindo orações. Veja imagens. (Fotos: Henrique Luiz e Lailson Damasio, da assessoria do governo)
































Na coluna Painel, na Folha de S.Paulo

Me chama que eu vou

O exemplo de Gilberto Kassab, que planeja fundar uma legenda apenas para conseguir abandonar o DEM sem ser incomodado pela Justiça, atiça o ânimo dos políticos. Dias atrás, o deputado Sandes Júnior procurou o presidente do PP, Francisco Dornelles, para manifestar descontentamento com os rumos da sigla em Goiás, sua base eleitoral. E ameaçou:
-Se continuar assim, vou pro partido do Kassab!
O veterano senador não se abalou:
-Pra onde você for, eu vou! Me leve com você...